O
meu encontro com os Javalis
Tipo: Circular
Extensão: 11kms
Duração: 5h
Altitude: 720 – 1306 mts
Dificuldade: Média – Alta
Ponto de Interesse: Poço do Inferno
Local: Serra da Estrela
As caminhadas são
acima de tudo aproximação de pessoas e culturas. Desde de 2006 faço caminhadas
por todo tipo de locais, embora as serras sejam a minha preferência. A vontade
e a sensação simbiótica do contacto directo com a natureza tem-me feito procurar
mais e mais percursos já sinalizados ou andar à aventura por montes e vales. E
foi isso mesmo que fiz na minha última caminhada em 2013. Encerrei o ano com o PR2– Rota do Javali em Manteigas, em pleno Parque Natural
da Serra da Estrela.
Fiz esta caminhada
no dia 15 de Dezembro, dia fantasticamente azul e sem humidade. Uma grande
sorte porque facilitou imenso. A escolha do percurso foi exactamente pela
beleza e porque nesta altura do ano apetece mesmo caminhar com “cheiro” a frio
e “sabor” a sol.
Depois da chegada a
Manteigas e respirar aquele ar gélido, num ambiente branco de geada, tive que
arranjar forças, logo para a primeira subida. Desde o início, fiquei com a
sensação de despedida do Outono: muitas folhas caídas, verdadeiros tapetes
castanhos e árvores completamente despidas.
Avistei por algum
tempo, a Ribeira de Leandres (afluente do Rio Zêzere) que, devido à ausência de
chuva dos últimos tempos, corria muito timidamente entre os vales escarpados.
Vi, finalmente o Poço do Inferno, cascata natural de 10 mts, de que tanto se
fala e destaca, quando é referida a vila de Manteigas e a própria Serra da
Estrela. É um local emblemático que detém um percurso próprio (PR1 – Rota doPoço do Inferno) e também é possível visitar de carro.
Aliás,
aconselho qualquer um dos 16 percursos marcados deste concelho.
Foi no Poço do
Inferno a paragem para o pequeno – almoço e claro registar o momento.
A par com estas
linhas de água estão várias espécies folhosas e resinosas que tornam a paisagem
mística e eu até diria cinematográfica, que fazem crescer uma vegetação muito
rica em alimentos para todo tipo de animais, incluindo o javali.
Um dos fenómenos
naturais que me chamou à atenção nestas paisagens, foram as cascalheiras -
fragmentos rochosos “pendurados”, que pareciam cair a qualquer momento.
Depois da barriga
cheia, a subida íngreme tornou-se ainda mais dura, até chegar ao ponto mais
alto deste percurso (Vale do Buraco) para depois regressar à vila de Manteigas.
Se a vista
panorâmica para Manteigas no início do percurso com a luz do sol a descer
assemelhava-se a um manto a destapar-se, no regresso, por entre as folhosas o
cenário mais parecia um postal de uma “qualquer” vila típica recortada e colada
como se fosse um puzzle.
No regresso a descida
foi cuidadosa pelo tipo de calçada em pedra coberta com o tal cobertor castanho
(folhagem), que felizmente estava bem seco. Não aconselho fazer este percurso
com humidade. Poderá ser muito escorregadio. É claro que a neve poderia dar um
contraste único à folhagem e teria sido um adorno natalício perfeito.
Em alguns sítios
onde o sol não deu “o ar da sua graça” a geada permaneceu intacta durante todo
o dia.
Antes de continuar a descrever as maravilhas este
percurso, preciso de falar das emoções contrastantes que me causaram. As
sensações foram bem diferentes. As maravilhas que visualmente me despertaram
contrastaram com a tristeza ao ver os resquícios dos grandes desastres que de
naturais não têm nada.
Nos últimos anos, as
nossas florestas têm travado uma grande luta para sobreviver, que quanto a mim,
luta muito desigual, onde o homem se apresenta acima de tudo e todos. Parece-me
importante mostrar que é ao contrário. As nossas serras oferecem-nos a nossas
sobrevivência, dão-nos tudo o que têm e nós, seres humanos, é que somos muito
pequenos perante o seu equilíbrio natural e imponência.
O agradecimento
pelas suas dádivas, o respeito e a preservação de todas as áreas verdes, sejam
elas grandes ou pequenas, deveriam fazer parte da nossa consciência, não é verdade?
No final da caminhada
não poderia faltar o repasto para repôr as energias. Comi, ou melhor saboriei no
Restaurante Santa Luzia as típicas feijocas, javali, cabrito, truta, umas
sobremesas caseiras…deliciosamente indescritíveis.
Para quem queira conhecer
melhor o Parque Natural da Serra da Estrela, a oferta turística é muito
variada, a gastronomia é muito tradicional e fielmente caseira e as actividades
de lazer estão disponíveis para todo o tipo de visitante em qualquer estação do
ano.
Já sei qual é a
pergunta que paira no ar...e a resposta é não, durante todo o percurso não vi
nenhum javali. Ainda bem.
Fica uma última
curiosidade: “A Lã e a Neve”, livro de Ferreira de Castro que descreveu ao mais
ínfimo pormenor e de forma fidedigna, estas paisagens naturais do concelho de
Manteigas.
Em 2014 as aventuras
vão continuar...
Informações Úteis:
Dicas:
Não fazer caminhadas
sozinho sem ter qualquer tipo de experiência, ou sem guia;
Usar roupa e calçado
adequado e levar uma muda de roupa suplente;
Observar as condições
meteorológicas;
Levar água e reforço
alimentar;
Obter informações sobre os
percursos antes de iniciar a caminhada;
Estar atento às marcações;
Ter sempre um meio de
contacto;
Levar um Kit de primeiros
socorros;
Respeitar o ambiente: não danificar as espécies, não deitar lixo para o
chão e praticar co-transporte.
Manteigas |
Cascalheiras |
Merenda junto ao Poço do Inferno |
Marcas de Incêncios |
Geada |
Tapete Castanho (folhagem) |
Manteigas |
Vista a partir do Restaurante Stª Luzia |
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