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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PR2 MTG - Rota do Javali


O meu encontro com os Javalis

Artigo publicado na Revista Outdoor nº 13

Ficha Técnica do PR2:
Tipo: Circular
Extensão: 11kms
Duração: 5h
Altitude: 720 – 1306 mts
Dificuldade: Média – Alta
Ponto de Interesse: Poço do Inferno
Local: Serra da Estrela

As caminhadas são acima de tudo aproximação de pessoas e culturas. Desde de 2006 faço caminhadas por todo tipo de locais, embora as serras sejam a minha preferência. A vontade e a sensação simbiótica do contacto directo com a natureza tem-me feito procurar mais e mais percursos já sinalizados ou andar à aventura por montes e vales. E foi isso mesmo que fiz na minha última caminhada em 2013. Encerrei o ano com o PR2– Rota do Javali em Manteigas, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.

Fiz esta caminhada no dia 15 de Dezembro, dia fantasticamente azul e sem humidade. Uma grande sorte porque facilitou imenso. A escolha do percurso foi exactamente pela beleza e porque nesta altura do ano apetece mesmo caminhar com “cheiro” a frio e “sabor” a sol.
Depois da chegada a Manteigas e respirar aquele ar gélido, num ambiente branco de geada, tive que arranjar forças, logo para a primeira subida. Desde o início, fiquei com a sensação de despedida do Outono: muitas folhas caídas, verdadeiros tapetes castanhos e árvores completamente despidas.
Avistei por algum tempo, a Ribeira de Leandres (afluente do Rio Zêzere) que, devido à ausência de chuva dos últimos tempos, corria muito timidamente entre os vales escarpados. Vi, finalmente o Poço do Inferno, cascata natural de 10 mts, de que tanto se fala e destaca, quando é referida a vila de Manteigas e a própria Serra da Estrela. É um local emblemático que detém um percurso próprio (PR1 – Rota doPoço do Inferno) e também é possível visitar de carro.
Aliás, aconselho qualquer um dos 16 percursos marcados deste concelho.
Foi no Poço do Inferno a paragem para o pequeno – almoço e claro registar o momento.
A par com estas linhas de água estão várias espécies folhosas e resinosas que tornam a paisagem mística e eu até diria cinematográfica, que fazem crescer uma vegetação muito rica em alimentos para todo tipo de animais, incluindo o javali.
Um dos fenómenos naturais que me chamou à atenção nestas paisagens, foram as cascalheiras - fragmentos rochosos “pendurados”, que pareciam cair a qualquer momento.
Depois da barriga cheia, a subida íngreme tornou-se ainda mais dura, até chegar ao ponto mais alto deste percurso (Vale do Buraco) para depois regressar à vila de Manteigas.
Se a vista panorâmica para Manteigas no início do percurso com a luz do sol a descer assemelhava-se a um manto a destapar-se, no regresso, por entre as folhosas o cenário mais parecia um postal de uma “qualquer” vila típica recortada e colada como se fosse um puzzle.
No regresso a descida foi cuidadosa pelo tipo de calçada em pedra coberta com o tal cobertor castanho (folhagem), que felizmente estava bem seco. Não aconselho fazer este percurso com humidade. Poderá ser muito escorregadio. É claro que a neve poderia dar um contraste único à folhagem e teria sido um adorno natalício perfeito.
Em alguns sítios onde o sol não deu “o ar da sua graça” a geada permaneceu intacta durante todo o dia.
Antes de continuar a descrever as maravilhas este percurso, preciso de falar das emoções contrastantes que me causaram. As sensações foram bem diferentes. As maravilhas que visualmente me despertaram contrastaram com a tristeza ao ver os resquícios dos grandes desastres que de naturais não têm nada.
Nos últimos anos, as nossas florestas têm travado uma grande luta para sobreviver, que quanto a mim, luta muito desigual, onde o homem se apresenta acima de tudo e todos. Parece-me importante mostrar que é ao contrário. As nossas serras oferecem-nos a nossas sobrevivência, dão-nos tudo o que têm e nós, seres humanos, é que somos muito pequenos perante o seu equilíbrio natural e imponência.
O agradecimento pelas suas dádivas, o respeito e a preservação de todas as áreas verdes, sejam elas grandes ou pequenas, deveriam fazer parte da nossa consciência, não é verdade?
No final da caminhada não poderia faltar o repasto para repôr as energias. Comi, ou melhor saboriei no Restaurante Santa Luzia as típicas feijocas, javali, cabrito, truta, umas sobremesas caseiras…deliciosamente indescritíveis.
Para quem queira conhecer melhor o Parque Natural da Serra da Estrela, a oferta turística é muito variada, a gastronomia é muito tradicional e fielmente caseira e as actividades de lazer estão disponíveis para todo o tipo de visitante em qualquer estação do ano.
Já sei qual é a pergunta que paira no ar...e a resposta é não, durante todo o percurso não vi nenhum javali. Ainda bem.
Fica uma última curiosidade: “A Lã e a Neve”, livro de Ferreira de Castro que descreveu ao mais ínfimo pormenor e de forma fidedigna, estas paisagens naturais do concelho de Manteigas.
Em 2014 as aventuras vão continuar...

Informações Úteis:

Dicas:
Não fazer caminhadas sozinho sem ter qualquer tipo de experiência, ou sem guia;
Usar roupa e calçado adequado e levar uma muda de roupa suplente;
Observar as condições meteorológicas;
Levar água e reforço alimentar;
Obter informações sobre os percursos antes de iniciar a caminhada;
Estar atento às marcações;
Ter sempre um meio de contacto;
Levar um Kit de primeiros socorros;
Respeitar o ambiente: não danificar as espécies, não deitar lixo para o chão e praticar co-transporte.

Manteigas
















Cascalheiras


Merenda junto ao Poço do Inferno









Marcas de Incêncios


















Geada















Tapete Castanho (folhagem)




Manteigas

Vista a partir do Restaurante Stª Luzia



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